E é no meio dela que mais agimos, de forma solidária. Já pensaste nisso?
Quando a natureza revela a sua força de maneira devastadora, como vimos recentemente em Valência, algo extraordinário acontece: as pessoas unem-se. De todas as partes, chegam mãos para ajudar, medicamentos, alimentos, equipamentos e, sobretudo, gestos de humanidade que aquecem o coração. Este fenómeno de solidariedade, tão comum em catástrofes, revela algo profundo sobre a nossa essência.
Solidariedade tem tudo a ver com Psicologia Positiva. Quando saímos do nosso conforto para ajudar os outros, não só fortalecemos o bem-estar coletivo, como enriquecemos a nossa saúde emocional. Diversos estudos demonstram que atos de bondade e altruísmo desencadeiam a produção de hormonas como a oxitocina, a “hormona do amor”, que nos faz sentir mais ligados, seguros e satisfeitos. Além disso, esses gestos solidários reduzem o stress, promovem a resiliência e reforçam o sentido de propósito e significado na vida.
Mas porque é que as catástrofes naturais parecem ser o gatilho mais comum para estas “ondas de bondade”? Talvez a resposta resida na nossa capacidade inata de empatia que nos leva à ação. É como se a natureza nos recordasse que somos frágeis por conta própria, mas fortes em comunidade.
Há muitos exemplos que comprovam o impacto transformador da solidariedade:
- Após o terremoto e tsunami de 2011 no Japão, voluntários de todo o mundo se uniram para apoiar as vítimas e ajudar na reconstrução de Fukushima.
- Durante a guerra na Ucrânia, milhões contribuíram com recursos e abriram as suas casas para acolher refugiados.
Estes movimentos não apenas ajudam a reconstruir o espaço físico destruído, como também criam laços de empatia e compaixão que nos lembram a nossa capacidade de nos conectarmos profundamente uns com os outros. Ensinam-nos a ser mais gratos e a construir um senso de comunidade que transcende fronteiras.
Agora, o grande desafio: como cultivar a solidariedade no dia-a-dia, sem esperar que uma crise nos desperte? A Psicologia Positiva oferece práticas simples e eficazes. A gratidão, por exemplo, ajuda-nos a reconhecer e a valorizar o que recebemos dos outros, despertando o desejo de retribuir. Pequenos gestos de gentileza aleatórios, como oferecer ajuda a um desconhecido, criam uma corrente de bem-estar que se multiplica e inspira. A prática da atenção plena (mindfulness) torna-nos mais atentos às necessidades e à dor do outro, criando espaço para uma presença genuína e compassiva. Quando cultivamos a empatia nos mais pequenos atos diários, elevamos o nosso sentir e impactamos todos à nossa volta.
Talvez, então, não seja a natureza que “nos ensina” a ser humanos, mas sim a nossa humanidade que, na adversidade, encontra solo fértil para florescer. O grande desafio agora é aprender a nutrir essa solidariedade todos os dias – porque juntos somos mais fortes, sempre.
Ana Mafalda Lobo de Carvalho, Patricia Sarmento, Kalpna Kirtikumar
A equipa ‘Semear Valores’