Quando encontramos serenidade e equilíbrio em nós, relacionamo-nos mais pacificamente com quem nos rodeia. “Não é nada fácil.” dirão alguns, “De que serve estar tranquilo se existem sempre pessoas conflituosas?” pensarão outros.
O ponto de viragem é talvez reconhecermos que podemos precisar de ajuda. Sem que tal nos enfraqueça ou desvirtue. Se fez ou faz terapia já reconhece a importância vital de se ouvir a si próprio, de se descobrir e de adotar comportamentos alinhados com os seus valores.
Se pertence a alguma associação ou movimento identifica, certamente, o poder e a energia do coletivo para passar à ação e para persistir para lá dos desafios e das dificuldades.
Pode ser uma pessoa que encontra a sua paz no silêncio, na oração ou na meditação. Ou que liberta tensões na prática de atividade física, descomprime através da escrita, relaxa a tricotar camisolas e acalma a fazer bricolage.
A ideia subjacente é que conhecer como pode apaziguar-se e intencionalmente permitir-se esses momentos transforma o seu mundo interno. E depois o seu mundo externo e o dos que lhe são próximos. E consequentemente os mundos dentro deles também…. É uma reação em cadeia incessante. Já tinha pensado nisto?
O modelo da Comunicação Não Violenta nasceu da busca do psicólogo americano Marshall Rosenberg (1934-2015) para entender as raízes da violência e para encontrar uma maneira de disseminar habilidades para a criação de paz. Nas suas próprias palavras – “Fiquei impressionado com o papel crucial da linguagem e do uso das palavras. Desde então, identifiquei uma abordagem específica da comunicação — falar e ouvir — que leva a que nos entreguemos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de uma tal maneira que permite que a nossa compaixão natural floresça.”
Um dos pontos chave prende-se com a identificação das necessidades humanas universais, comuns a todos – alimentação, autonomia, celebração. Interdependência, brincadeira e comunhão espiritual. Este reconhecimento esbate diferenças entre pessoas e possibilita pontes de conexão, através da aceitação de que os modos que cada um escolhe para atender às suas necessidades são diferentes. Conseguir ir para além dessas diferenças superficiais e identificar qual é a necessidade subjacente a uma ação específica, abre espaço para olhar o outro além do comportamento.
A comunicação não violenta é uma valiosa ferramenta de relação de cada um consigo próprio enquanto estratégia de diálogo interno para o desenvolvimento da autoempatia e também para a construção da empatia na relação com os outros.
Contempla quatro passos na perceção de qualquer acontecimento do dia-a-dia ou situação recorrente, impactando a forma como pensamos e falamos sobre o assunto.
Convida-nos assim a:
- Observar a situação sem avaliar ou emitir juízos de valor (Observação)
- Expressar os nossos sentimentos aceitando a sua legitimidade e não responsabilizando ninguém por isso (Sentimentos)
- Reconhecer o que está em falta e o que precisamos para a nossa vida (Necessidades)
- Pedir o que nos nutre e enriquece (Pedido)
Este esquema pode, com inúmeros benefícios, aplicar-se à forma como dialogamos com os outros e também connosco próprios. O discurso interno condiciona de modo significativo a nossa identidade, as ações que empreendemos e até mesmo os sonhos e projetos que idealizamos.
Determina se me sinto mais ou menos capaz de fazer acontecer, mais ou menos eficiente a alcançar metas e a materializar realizações. Assim sendo, e voltando ao princípio, estar mais conectado comigo é também estar mais disponível para comunicar de forma autêntica, empática e pacífica com os outros.
É legitimar a humanidade comum e sentir-se parte do todo, coresponsabilizando-se pelo que acontece no mundo e assumindo compromissos.
A Psicologia Positiva enquanto ciência aplicada é rica em conceções e modelos focados nas soluções ao invés de nos problemas, viabilizando-nos preciosos guidelines para a ação.
Assim fique com esta dica de comunicação, atendendo aos quatro passos já mencionados:
– Observe: o que vejo de forma objetiva?
– Sinta: que emoções experimento?
– Perceba as suas necessidades: o que preciso? o que valorizo?
– Peça a si próprio e/ou aos outros: o que pretendo? qual é a mudança necessária? comprometo-me comigo mesmo? que ação que estou disponível a empreender?
Exercício 1
- Escolha uma situação quotidiana ou um momento em que realiza algo que gosta (observação).
- Reflita e descubra como se sente (sentimentos) e quais as necessidades a que responde ao executar essa ação (necessidades).
- Se quiser continue o exercício nos dias seguintes. Pode ainda convidar um amigo para fazer o mesmo exercício e depois conversarem sobre a experiência.
Exercício 2
- Escolha uma situação desafiadora pela qual passou nos últimos meses (observação) e treine a autoempatia.
- Investigue como se sentiu (sentimentos) naquela situação e o que precisava de cuidado(necessidades).
- Que ações realizou para lidar assertivamente com o desafio? Que resoluções assumiu para futuros desafios? (pedido/compromisso)
Como sugestão de leitura para aprofundar o tema e praticar:
MARSHALL B. ROSENBERG
Licenciado em Psicologia pela Universidade do Wisconsin, nos Estados Unidos, doutorou-se em Psicologia Clínica. Tendo crescido num bairro turbulento de Detroit (EUA), Marshall B. Rosenberg (1934-2015) interessou-se por novas formas de comunicação para criar alternativas pacíficas de diálogo que amenizassem o clima de violência com o qual conviveu. Comunicação Não-Violenta resulta da sua formação académica e de vivências pessoais como militante pelos direitos civis, voluntário em abrigos e terapeuta familiar