Oh la la… l’amour!

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“Uma flor não pode florir sem sol, e um homem não pode viver sem amor.”

Max Muller

No mês dedicado ao Amor, não podíamos deixar de falar dos vários tipos de amor, como estes nos surgem e como nos são ensinados.

Vamos contar uma história, uma alegoria dedicada ao amor:

“O amor já não é o que era!” diziam os idosos do banco do jardim… “Já não sinto o seu amor.” comentavam outros na esplanada do café. “Mostra se me amas!” pensava uma criança enquanto observava a sua mãe nas suas eternas ocupações. 
E um jovem, cheio de vida e sonhos, observava atentamente. Chegado a casa, farto de tanto negativismo, fez as malas e foi procurar o amor. Onde se esconderia? Porque teria abandonado assim o nosso mundo?
Caminhou vários dias e várias noites, subiu montanhas, atravessou rios, cruzou lugares perdidos. Até que resolveu pedir orientações. 
Passou por um casal que caminhava de mãos dadas pelos campos:
– Boa tarde, por acaso viram passar por aí o amor?
– Não sei se o reconheceríamos – respondeu o casal – mas creio que não!
Viu alguém que se debruçava sobre uma flor e cuidava dela com carinho.
– Boa tarde, por acaso viu passar por aqui o amor?
– Por aqui não creio… 
Questionou também duas crianças que brincavam entre si mas também não lhe souberam responder. 
Perguntou ainda a dois amigos que se abraçavam depois de um longo período afastados, a uma mulher que se baixava para conversar com um pobre homem de olhar vazio que pedia alimento, a um forasteiro que lhe sorriu ao passar… e a tantos outros… Mas neste mundo agitado e confuso, ninguém parecia saber onde encontrar o amor.
Cansado da sua viagem, foi então que o jovem parou e se sentou a ver finalmente o pôr-do-sol. Nesse momento, uma mão pousou sobre o seu ombro e sussurrou-lhe:
– Estava a ver que não te apanhava!
Era o Amor! 
O Jovem reviu com ele a sua viagem e percebeu que o amor o tinha acompanhado ao longo de todo o percurso: no casal que passeava, no indivíduo que admirava a natureza, nas crianças que brincavam, nos amigos que se reviam, na mulher que dava o seu tempo, no pobre homem que escutava, no forasteiro que cruzava o olhar… 
E então percebeu que o amor continuava em todo o lado, era só preciso mudar o olhar!

Sofia M Chaves

Ao longo da história da humanidade, o amor sempre teve um lugar de destaque, mas o que é o amor afinal? 

Os poetas escrevem-lhe odes, os músicos dedicam-lhe refrões para sempre recordados, os artistas entregam o seu amor em palco, as mães embalam os filhos, os pais ensinam caminhos, os irmãos abraçam desafios em conjunto… 

Será que podemos ver, sentir e encontrar o amor em todo o lado?

A Psicóloga Barbara Fredrickson tem desenvolvido inúmeros estudos sobre as emoções positivas, nomeadamente o amor. A sua pesquisa central levou-a a desenvolver a teoria “Broaden and Build Theory” (2001). Segundo a mesma, estas emoções desempenham um papel essencial na nossa sobrevivência, promovendo novas e criativas ações, ideias e laços sociais. Quando as pessoas experimentam emoções positivas, as suas mentes abrem-se a novas possibilidades e caminhos. Ao mesmo tempo, ajudam as pessoas a construir os seus recursos de bem-estar pessoal.

O amor é apenas uma de 10 emoções positivas. Num estudo realizado por Barbara Fredrickson e pelos seus colegas (Fredrickson et. al., 2013), a autora sugere a seguinte lista das “10 grandes emoções”: amor, alegria, gratidão, serenidade, interesse, esperança, orgulho, diversão, inspiração e admiração. Todas estas emoções positivas contribuem para o nosso bem-estar. Para saber como se sente cada uma delas e aprender mais sobre as emoções, convidamo-lo a explorar o livro “Emocionário” de Rafael R. Valcarcel e Cristina Nuñez Pereira (2017).

Mas debrucemo-nos sobre o amor. Frederickson descreve o amor como uma emoção positiva que, como todas as outras, é momentânea e pode ser experienciada em micro-momentos. Desta forma, o amor é descrito como algo que pode ser partilhado várias vezes ao dia com diferentes pessoas, que podem ir desde a família até pessoas estranhas. Fredrickson (2013) considera que a letra da famosa música de Louis Armstrong reflete muito bem esta ideia:

“I see friends shaking hands….
sayin’ ‘how do you do?’
 they’re really saying…
’I love you’”  

Quando estes três critérios se encontram, vive-se um momento de amor. Quando encontramos alguém com quem nos é dada a possibilidade de viver vários destes momentos, a lealdade é desenvolvida e estabelecem-se relações duradouras.

Como dizia Saint Exupéry no seu livro “O Principezinho”, “O amor é a única coisa que cresce à medida que se repete.”

A sua definição de amor inclui três critérios, estreitamente relacionados: o primeiro, uma partilha de uma ou mais emoções positivas entre si e outra pessoa; o segundo, uma sincronia entre a sua bioquímica e comportamentos e os da outra pessoa; e o terceiro, um motivo refletido para investir no bem-estar um do outro que traz cuidado mútuo. (Fredrickson 2013, p.17).

Construir e manter relações fortes é uma necessidade do ser humano: para o nosso bem-estar, precisamos de estabelecer relações com o outro e encontrar pessoas que nos permitam viver emoções positivas em conjunto. 

Em vez de procurar o amor, estejamos atentos à nossa volta e deixemos que o amor nos encontre. Pensemos nas pessoas com quem experienciamos emoções positivas ou nos momentos em que vivemos alguma dessas emoções no dia de hoje. Recordemos como nos fizeram sentir e identifiquemos as pessoas que nos ajudaram a experienciá-las. Procuremos oportunidades para voltar a viver essas emoções.

Agora, ou no caminho para casa, olhemos à nossa volta e deixemo-nos contagiar pelas manifestações de amor – mesmo as mais pequenas – que formos encontrando. 

E lembre-se, mais do que ver e experimentar o amor… seja amor.

Sofia M. Chaves, Paula P. Senra

Referências Bibliográficas

  • Fredrickson, B. L. (2001). The role of positive emotions in positive psychology: The broaden-and-build theory of positive emotions. American Psychologist, 56(3), 218–226.
  • Fredrickson, B. L. (2013). Chapter One – Positive Emotions Broaden and Build. Advances in Experimental Social Psychology, 47, Pages 1-53.
  • Pereira, C. N., Valcárcel, R. R., & Keselman, A. (2017). Emocionário: Diz o Que Sentes. Lisboa: Texto Editores.