No próximo dia 10 de outubro assinala-se mais um Dia Mundial da Saúde Mental. A designação saúde mental tem vindo a normalizar-se ao longo do tempo e já faz parte de muitas notícias, conversas e iniciativas um pouco por todo o lado.
Na página do Serviço Nacional de Saúde – pode ler-se que “A saúde mental é a base do bem-estar geral e diz respeito a um nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional ou a ausência de uma doença mental.”
Ser entendida (e bem) como a base do bem-estar geral configura-a desde logo como uma condição essencial a estarmos saudáveis, proativos a lidar com os desafios e a resolver problemas, mas também capazes de usufruir de momentos de lazer e de entretenimento e devidamente competentes no autocuidado.
Na perspetiva da “vida que vale a pena ser vivida” (Chris Peterson, 2006) encontramos o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal como processos relevantes de evolução e de aprendizagem, aos quais as consultas no âmbito da saúde mental podem responder.
Importa ainda lembrar que, enquanto contexto basilar para o bem-estar, ter saúde mental exige manutenção e é uma viagem que requer constantes adequações e ajustes, conforme as circunstâncias e a fase da vida em que nos encontramos. Em suma, é uma construção diária e dinâmica que deve fazer parte dos hábitos rotineiros como como beber água e fazer exercício.
Do ponto de vista dos cuidados primários, será relevante encarar a necessidade de recorrer a consultas de psicologia e de psiquiatria de forma natural e mesmo desejável, pelo menos em algum momento da nossa vida, tal como fazemos em relação a outras especialidades.
Os próprios indicadores numéricos da saúde mental confirmam a inevitabilidade de nos consideramos todos potenciais doentes mentais, tal como já acontece, por exemplo com o cancro. Globalmente estima-se que 1 em cada 7 adolescentes, entre os dez e os dezanove anos, experiencie condições de doença mental, sendo que a maioria não é diagnosticada e fica sem acompanhamento clínico (OMS, 2022).
O objetivo da Psicologia foi, até ao século passado, investigar, compreender, classificar, tratar e prevenir distúrbios psicológicos. Enquanto ciência o seu objeto de estudo andou em torno de traumas e perturbações que o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, já na 5ª edição (DSM-V) compila.
No final do século passado, os psicólogos Martin Seligman e Christopher Peterson (2004) propuseram uma classificação complementar, baseada no estudo das qualidades e características positivas do ser humano, empreendendo uma exaustiva investigação. Este trabalho durou vários anos e contou com a participação de mais de 55 investigadores e culminou com a compilação do Manual de Classificação das Forças de Carácter e das Virtudes. Este ponto de viragem marca para muitos o nascimento da Psicologia Positiva.
A exploração das forças de caracter e das virtudes individuais é um procedimento relativamente simples e gratuito, através do registo no Instituto VIA Character Strengths
A continua investigação nesta área, não só do Instituto, mas de muitos outros investigadores de todo o mundo, mostra que quando as principais forças de carácter de um individuo são colocadas em prática, há um aumento da disposição, da vitalidade, da autocompaixão e da autoconfiança.
As pesquisas têm revelado que as pessoas que usam as suas forças diariamente, reportam índices mais elevados de felicidade, apresentam uma maior qualidade de vida, estão mais envolvidas no seu trabalho e vivem a sua vida com maior propósito e significado. Estes resultados devem-se ao facto de mobilizarem de forma consciente as suas forças de carácter e de estas as ajudarem a alcançar os seus objetivos e metas, a melhorarem o seu desempenho e consequentemente a obterem uma maior produtividade no seu trabalho, a resolverem mais facilmente os problemas e a superarem melhor os obstáculos que a vida lhes coloca, aumentando a sua capacidade de resiliência. Existem evidências que relacionam a aplicação das forças de caráter com relacionamentos mais sólidos e gratificantes, através do reconhecimento e da valorização das forças de caracter dos outros, seja no seio da família, no meio laboral ou socialmente. São ainda apontados níveis mais reduzidos de stress e o incremento da autoconfiança e do bem-estar.
Estes são exemplos da forma como a psicologia positiva aplicada, enquanto ciência focada nas dimensões da experiência humana que empoderam, fortificam e elevam as pessoas, as organizações e as sociedades nos entrega evidências claras e recursos inestimáveis para a promoção da saúde mental a nível individual e coletivo.
Jonathan Haidt no seu mais recente livro “A Geração Ansiosa – Como a Grande Reconfiguração da Infância está a provocar uma Epidemia de Doença Mental” (2024) apresenta dados sobre o aumento significativo das taxas de depressão, ansiedade, auto-mutilação e suicídio, evidenciando o declínio da saúde mental dos adolescentes desde 2010 em muitos países do mundo.
Constatando que se passou do “ser criança é brincar” para a infância do telemóvel, ressalta os impactos desta reconfiguração no desenvolvimento social e neurológico das crianças, nomeadamente a privação do sono, a fragmentação da atenção, a dependência, a solidão, o contágio social, a comparação social e o perfecionismo.
Haidt convoca-nos também à ação, propondo etapas de mudança para a recuperação da saúde mental desde a infância até à idade adulta, para pais, professores, escolas, empresas de tecnologia e governos. A tomada de consciência para a realidade dos factos deve ser partilhada por todos, tal como a responsabilidade de transformação para o bem comum, não só da geração atual como das futuras.
Deixámos para último uma das atividades mais conhecidas e estudadas da Psicologia Positiva e que contribui de forma muito eficaz para a redução de sintomas depressivos nos primeiros seis meses (Seligman et al., 2005, citado por Boniwell, 2012): O diário da Gratidão.
Esta atividade simples, tem um poder extraordinário a transformar vidas, como poderão constatar no Tedx Talks de Hailey Bartholomew – 365 Grateful Project.
Também no livro “Vencer a depressão com a Psicologia Positiva” Miriam Akhtar (2012), dedica um capítulo à gratidão e partilha com o leitor o impacto que este exercício teve e contínua a ter na sua vida, desde a década de 90, quando o conheceu pelas mãos de Sarah Ban Breathnach no famoso programa Oprah Winfrey Show.
Esta atividade consiste no registo diário de pelo menos três coisas boas que lhe aconteceram, identificando depois qual foi o seu contributo para cada um desses acontecimentos.
A Associação de Psicologia Positiva, Florescimento Humano e Societal tem como objetivo colaborar na divulgação desta área da ciência, promovendo eventos e atividades que levem ao público em geral a sua aplicabilidade.
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Cristina Soares | Mónica Silva
Psicólogas, sócias APPFHS